6 dicas para um jovem diretor
- Rose Bernardi
- 18 de jul. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de jul. de 2022
Ou: seis aprendizados aleatórios que conservo comigo até hoje
A EducationWeek fez uma provocação aos seus leitores nesta semana, pedindo-lhes que dessem dicas a novos diretores de escola em até seis palavras. Adaptei para mim o desafio: não conseguiria ser tão sintética. E pensei: sem me limitar ao número de palavras, quais seriam as seis dicas que eu daria para um jovem diretor?
As primeiras que me vieram à cabeça estão neste post. Depois, me vieram muitas outras... Mas serei fiel ao desafio e me aterei a essas seis.
#1 - Nos 100 primeiros dias, não confie nos espelhos.

Você será procurado por muitas pessoas (clientes ou colaboradores) que - depois dos 100 primeiros dias - talvez desapareçam. Estavam entocadas e sua chegada fez com que ressurgissem. Não confie na autoimagem que lhe restará desses encontros. Você não é tão pequeno nem tão grande quanto essas pessoas lhe farão parecer.
Haverá agressivos numa quantidade inflacionada. Nos dias de início, agressivos e arrogantes saem das tocas. Trazem mágoas da gestão anterior e fazem questão de expressar isso. Farão com que se veja pequeno. Vão chegar causando: querem marcar logo o território. Respeite o conteúdo que lhe trazem. Não confie na forma com que o fazem.
Também em quantidade inflacionada estarão os extremamente-hiper-ultra-demais simpáticos e solícitos. Veem em você uma nova oportunidade de valorização de seus pleitos, ideias, carreiras, o que seja. Também trazem mágoas da gestão anterior, mas as manterão em segredo. Farão com que se veja gigante. Vão chegar bajulando. Desconfie do conteúdo que lhe trazem e da forma com que o fazem. Melhor ainda: desconfie mais ainda dos seus sentimentos em relação a eles.
#2 - Todos têm sempre razão. Clientes e colaboradores. Agressivos e até bajuladores.
As pessoas sempre estão 100% certas sobre o desconforto que sentem em relação àquilo que lhe trazem como um problema. Porém raramente estão corretas sobre a solução que lhe apresentam. E que, muitas vezes, já chega totalmente misturada com o problema propriamente dito.
Por isso, ouça. E exercite muito sua capacidade de ir além daquilo a que se apresenta na superfície. Pergunte, pergunte, pergunte, procurando isolar a real raiz do problema. Você ficará surpreso ao encontrá-la, muitas vezes, bem longe dos seus frutos. E mais surpreso ainda quando descobrir possibilidades interessantes para saná-la.
"Seus clientes mais infelizes são a sua maior fonte de aprendizagem." – Bill Gates
#3 - No primeiro ano, você é herdeiro. Depois disso, é proprietário.
É bem comum que um novo diretor inicie sua jornada no início do ano letivo. Portanto, com tudo já desenhado no ano anterior.
É um momento de ouro para ouvir sem cair na tentação de uma atitude defensiva. Nada do que existe é mérito seu. Nem culpa sua. Acolha, agradeça, pondere, pondere, pondere muito.
E lembre-se: se nada do que veio no pacote é culpa sua, o que permanecer para o ano seguinte será todinho seu, ou seja, de sua inteira responsabilidade.
#4 - Por falar em responsabilidade...
Cultive seriamente em você e valorize muito em sua equipe o hábito de se assumir a responsabilidade sobre as coisas. O tempo que se perde tentando justificar aquilo que não deu certo e direcionar a culpa para os outros, para o contexto, para o além, para o mercado é puro desperdício. De tempo, de energia e, pior, de aprendizado.
Quando algo não funciona, é preciso - urgentemente - entender os motivos, a origem do problema e atuar ou pelo menos aprender sobre isso. Erros são ruins. Transformados em aprendizado, muito menos ruins. Viram crescimento.
#5 - A voz do povo não é a voz de Deus
porque raramente há o povo por trás da voz.

Muitas vezes, você terá a impressão de que o fim está próximo, a contar pelo relato que lhe fazem. Uma multidão já se prepara para uma manifestação e você vai virar notícia. Não será como herói.
Algumas pessoas têm o hábito de exagerar. "Um pai reclamou", sem nome, genérico, indefinido, às vezes esconde um "eu". "Os pais estão reclamando" costuma ser o codinome de "um pai reclamou".
Busque exatidão. Número real de envolvidos. Nomes. Isso não somente evita o pânico desnecessário, garantindo a todos serenidade, como permite a intervenção adequada e a comunicação devidamente endereçada.
#6 - O bom dia na porta da escola

Jamais comece seu dia sem ficar na porta da escola, recebendo todos aqueles que por lá passarão muitas horas de seus dias, muitos dias de seu ano, muito tempo - e um tempo extremamente significativo - de suas vidas. Você precisa fazer isso por eles.
E precisa fazer isso por você. Ali, verá pessoas e não problemas. Sim, caso não tenha percebido, na sua sala praticamente só verá problemas. Mas não na porta da escola, que é um belíssimo observatório das pequenas grande humanidades que constituem o propósito daquilo que você escolheu fazer.
Não acaba aqui...
E isso é ótimo. Porque escola é feita de gente. Gente se insere em tempos, culturas. E tudo vai mudando. E vamos aprendendo, a cada santo dia e a cada dia santo. Então, encerro o post com uma dica bônus: já que assim é, liberte-se dos pontos finais. Liberte-se mais ainda dos pontos de exclamação e substitua ambos por pontos de interrogação. Não deixe velhas certezas congelarem seu olhar jovem. Esse é um bom jeito de ocupar essa cadeira sem que ela lhe fique grudada no corpo.
Se alguém quiser conferir a matéria da EducationWeek, segue o link;



Comentários