Escolas privadas em 2022 - a concorrência aumentou, diminuiu ou... veja bem...
- Rose Bernardi
- 20 de mai. de 2023
- 5 min de leitura

Há duas semanas, fiz no LinkedIn uma enquete perguntando como as pessoas supunham, que, nos últimos cinco anos, a concorrência entre escolas privadas de educação havia se comportado. As respostas foram distribuídas: 25% dos respondentes achavam que haveria, em 22, um aumento do número de escolas superior a 10% do que havia em 2018. Outros 25% também acreditavam no aumento, mas num percentual inferior a 10%. 33% dos respondentes achavam que não deveria ter ocorrido uma alteração significativa e 17% acreditava que, em 22, o número de escolas privadas seria menor.
Propositadamente, claro, a pergunta era ardilosa. E a usei como gancho para desmistificar algumas crenças, explicitar alguns critérios e lapidar um pouco a informação. Neste nosso mercado, a gente ouve de tudo... Vamos por partes. Para falar sobre o número de escolas, tenho de começar pelas matrículas.
#1. Mantenedores de escolas privadas comemoraram o fato de que o número de matrículas na educação básica privada retornou - até ultrapassou - o número anterior ao que havia antes da pandemia. Teriam razão para comemorar?

O gráfico ao lado sintetiza as informações mais relevantes para abrir a conversa. E ele mostra que a redução quanto ao número de matrículas da educação básica - como um todo - parece ter recaído inteiramente sobre as escolas públicas (em marrom). As das escolas privadas (9.000.046) até teriam ultrapassado um tiquinho o número de matrículas de 2018. Só que nem tudo o que parece ser é.
Durante esse período muitas prefeituras optaram por firmar parcerias com instituições privadas para o atendimento em creches. Creches privadas não necessariamente participam do Censo Escolar, mas - quando se tornam conveniadas com uma prefeitura - têm de participar, até mesmo para justificar o orçamento do município. Apenas este fato já geraria duas distorções.
A primeira delas é que as matrículas desses convênios são catalogadas como privadas, mas - em essência - não o são. A maior parte delas retornará ao ensino público tão logo o convênio chegue ao fim.
A segunda delas é que se cria a falsa impressão de mais creches estão sendo abertas. Na verdade, muitas já poderiam estar em funcionamento há décadas sem jamais terem se declarado no Censo Escolar. Ao firmarem um convênio, se tornam contabilizáveis. Os gráficos abaixo retratam a informação de uma grande região de São Paulo - Capital - a Zona Leste 2. É uma região de mais de 2,5 milhões de habitantes distribuídos por Cidade Líder, Cidade Tiradentes, Ermelino Matarazzo, Guaianases, Iguatemi, Itaim Paulista, Itaquera, Jardim Helena, José Bonifácio, Lajeado, Parque do Carmo, Ponte Rasa, São Mateus, São Miguel, São Rafael, Vila Curuçá e Vila Jacuí.

A diferença é impressionante. Sem extrair da análise os estabelecimentos (e respectivas matrículas) que somente atendem como Creches, a leitura do gráfico superior é de que houve um aumento no número de matrículas em educação básica de 1.338 alunos. E, para a alegria dos gestores de escolas privadas, parece maravilhoso o número de alunos na rede privada: 5.460 a mais do que havia em 2018. E, fechando a conta, a rede pública teria perdido 4.122 alunos. Levanta-se a hipótese de que nasceram mais crianças e que a população local estaria, talvez, devido a uma melhora de suas condições econômicas, escolhendo a rede privada.
Mas, então, retiramos estabelecimentos que só oferecem creche e todos os números despencam. Na Zona Leste 2, havia, em 2022, 89.223 crianças matriculadas em estabelecimentos com este perfil. E, quando os expurgamos do cálculo, essa enorme parcela da população leva consigo as distorções de leitura de que falávamos anteriormente. Então vemos que as matrículas em educação básica são inferiores ao que eram em 2018 e que tanto a rede pública quanto a privada perderam alunos.
Quanto ao número de escolas, naturalmente, a retirada desses estabelecimentos também promove imensa alteração, na Zona Leste 2:
considerando-se todas as escolas privadas, a região contava, em 2018, 827 escolas privadas, que, em 2022, se tornaram 910: teria havido um grande aumento da concorrência superior a 10%
retiradas aquelas que só oferecem creche, a cena muda: eram 281 escolas privadas em 2018, que se reduziram a 279, em 2022.
Esta região de São Paulo, particularmente, possui um número altíssimo de instituições privadas dedicadas exclusivamente às creches: eram 546, em 2018, e, em 2022, passaram a ser 631. A cidade de São Paulo, efetivamente, possui dois programas em curso (Mais Creche e Bolsa Primeira Infância) através dos quais o município custeia o estudo de alunos em escolas de educação infantil privadas. Programas análogos têm se tornado bastante comuns em vários municípios brasileiros.
#2. Considerando-se todos esses considerados, afinal, no Brasil, aumentou ou diminui o número de escolas privadas nesses cinco anos?
Superficialmente, o número de instituições aumentou - bem menos que 10%. Em 2018, havia 40.641 escolas ativas e com - pelo menos - 1 aluno matriculado. Em 2022, 41.011.
Minha metodologia comparativa parte das seguintes premissas:
contabilizo as escolas por código da entidade. Se um mesmo mantenedor possui uma só instituição, dividida em dois endereços e registradas sob códigos diferentes, conto como duas escolas. Do mesmo modo, uma instituição que possua, por exemplo, entradas por diferentes endereços (conheço algumas que são reconhecidas pelo público através de marcas e identidades visuais distintas), mas são registradas como uma única entidade, para meu trabalho, considero uma só casa;
só considero escolas que estejam com status de funcionamento ativo e, ainda, que tenham, pelo menos, uma matrícula registrada no Censo Escolar. Em 2022, por exemplo, havia 45.977 escolas particulares ativas no país, porém, em 4.966 delas, não se registrava matrícula alguma. Como o meu trabalho consiste em compreender quem disputa as matrículas, não incluo aquelas que - mesmo mantendo o status ativo - não abriram matrículas em 2022;
não contabilizo escolas por CNPJ, apenas pelo Código da Entidade, seguindo o Censo Escolar.
também as instituições exclusivamente dedicadas ao Ensino Profissionalizante provocam distorções na comparação. Há localidades, como Porto Alegre, em que instituições com esse perfil provocaram um verdadeiro plot twist na narrativa que eu extraía dos dados quando foquei essa capital em análise, já postada, no LinkedIn.
Então, ao fim e ao cabo, se expurgarmos as escolas exclusivamente voltadas ao atendimento de creches ou à formação profissionalizante, o resumo da ópera é que houve redução do número de estabelecimentos privados no Brasil. Comparando-se dados do Censo Escolar e do IBGE de 2018 aos de 2022, o que vemos é uma redução de escolas privadas (34.362 em 2018, 34.075 em 2022). O quadro final fica assim:

Em termos nacionais, o número de matrículas na rede privada não retornou ao que era antes da pandemia. E houve uma ligeira redução também no número de escolas privadas.
O artigo ficou imenso e longe de esgotar tudo o que esse trabalho permite visualizar. Cada local é um, cada mercado é uma descoberta. Vou seguir postando uns flashes interessantes. Mas precisava, antes, detalhar um pouco esses critérios.
Números são números. O tratamento dado a eles é o que faz com que se transformem em informações, em conteúdo, em histórias que se podem contar. E - o melhor - em insumos para que sejam tomadas as decisões acertadas para uma estratégia de crescimento e longevidade. Se este artigo lhe despertou interesse e quiser saber mais, entre em contato. Será um prazer apoiá-lo nesse processo.



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