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Metas: como assim, por exemplo?

Ou: que as pessoas incríveis, que fizeram de mim uma gestora melhor do que eu era, me perdoem pela confissão que farei a seguir.


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Por coincidência, acaso, ou planos divinos, minha trajetória profissional como gestora foi toda percorrida em redes de escolas. Em grupos de escolas privadas que, às vezes, até muito adiantados em relação a seus concorrentes, entendiam a educação privada também como um negócio. E sou sincera em admitir que sempre estive de acordo com essa abordagem, mesmo respeitando e compreendendo perfeitamente colegas que se chocariam por isso.


Grupos de educação privada com esse tipo de perfil costumam trabalhar com o estabelecimento de metas que deveríamos buscar atingir a cada ano e, assim, mantermos suas escolas sustentáveis e longevas. Também isso jamais me incomodou. Julgava-me (e assim me conservo) capaz de atuar de maneira pragmática sem me violentar ou - principalmente - violentar a nobreza das relações humanas que compõem a delicada teia do mundo da educação.


Mas admito que um incômodo oculto eu tinha, sim. Confesso que participava do diálogo que culminaria na definição da meta nossa de cada ano achando que - tecnicamente - faltava-nos uma informação essencial: até onde a gente de fato poderia chegar? Definíamos as tais metas, porque tínhamos de fazê-lo, mas, intimamente, eu me sentia cúmplice de uma farsa: faltava uma perna para o banquinho parar em pé. Ou, melhorando a metáfora, eu sabia que não havia precisão em se estabelecer o equilíbrio entre realismo e ousadia, algo indispensável para quem trabalha com metas. Simplesmente porque ninguém sabia de fato até onde poderíamos chegar.


Qual era o real tamanho do mercado de cada escola? A depender do perfil de cada uma, havia achismos, mais ou menos, sensatos. As famílias estão tendo menos filhos. A população da cidade diminuiu. O bairro está envelhecendo. As escolas públicas estão ganhando alunos da rede privada. A rede privada está recebendo alunos da rede pública. O número de escolas privadas aumentou demais. A escola xis está lotada de alunos. Por aqui só crescem as escolas que jogam o preço lá pra baixo...


O que disso tudo era verdade? Quando era, quanto significava exatamente em números? Qual era o real tamanho do meu mercado? Sim, confessei: ajudei a definir metas apenas olhando para o passado, para o histórico, mas eu sabia que isso era muito equivocado.


Resolvi abrir a caixa de Pandora no final do ano passado. Juntei, cruzei, torneei e interpretei dados públicos de fontes diversas, mas absolutamente confiáveis e precisas e achei as respostas que eu tanto queria. Posso dividi-las com vocês? Elas lhes serão úteis? Sim e não. Posso, e vou, compartilhar algumas revelações surpreendentes, com prazer. Quem não gosta de demonstrar algo que vai contra o que comumente se pressupõe? Mas não passarão de curiosidades de pouca valia.


Este Brasilzão é diverso demais. E o que eu vi foi - literalissimamente - de tudo. E, para o mercado da sua escola só interessa o que está ao redor da sua escola. Então, por menos que eu queira fazer publi aqui no Blog, sou forçada a dizer que preciso saber um pouco mais de sua escola para poder lhe fornecer informações úteis.


Sobre a parte da fofoca, vamos quebrar em partes, para não transformar este artigo numa Gossipdatapedia. Vou começar por esta, bem panorâmica:



Mitos e verdades - só o comecinho...

Sim, é verdade que o número de matrículas na Educação Básica (pública ou privada), em 2022, é significativamente menor do que era em 2018.

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Sim, é bem provável que essa redução de alunos nesse nível de escolaridade seja decorrente de um menor número de filhos por família. A população brasileira prevista pelo IBGE é menor em 2022 do que era em 2018, mas a redução de matrículas é maior ainda, percentualmente. E não temos notícia de nenhuma situação excepcional que tenha reduzido o acesso das crianças à escolarização.


Veja, no gráfico ao lado: o percentual da população que estava matriculado na educação básica caiu de 23,2% para 22,8%.


A população de matriculados na rede privada até aumentou um pouquinho: quase 5.000 alunos a mais do que havia em 2018!


Mas não é exatamente verdade que esteja havendo uma migração da rede pública para a rede privada. Essa conclusão pode ser muito precipitada.


Ao longo dos últimos anos, muitas prefeituras, impulsionadas principalmente pela pandemia, firmaram convênios com creches privadas para atender aos municípios. Na prática, essas creches recebem da prefeitura e não das famílias. Embora sejam oficialmente, "matrículas da rede privada", essas crianças devem, em sua maioria, prosseguir seus estudos regressando à rede municipal de ensino.


Isso fica mais visível se expurgarmos da conta alunos matriculados em estabelecimentos que atendem exclusivamente como creches (sejam da rede pública, sejam da rede privada). O gráfico já se mostra bem diferente.

À esquerda: todas as matrículas, incluindo-se aquelas que se encontram em estabelecimentos que só atendem como Creche: aparentemente, a rede privada possui 4.797 estudantes a mais em 2022 e a rede pública registra uma perda de 1.078.590 alunos.

À direita: retirando-se escolas (públicas ou privadas) e seus respectivos alunos da aferição, a rede pública continua registrando uma redução de 1.198.007 estudantes e o ganho da rede privada já deixa de existir. A rede privada, nesse contexto, registra também uma redução de 69.466 alunos.


Se ajustarmos mais um ponto em nossa análise, então teremos uma compreensão mais apropriada do cenário. Há muitas escolas (públicas ou privadas) que atuam exclusivamente como profissionalizantes. Esse tipo de instituição também pode impactar a análise, principalmente, se o nosso objetivo é o de compreender o que ocorre com o chamado "ensino regular". Escolas profissionalizantes, muitas vezes, respondem mais a uma demanda do mercado - que oscila muito - do que a uma demanda acadêmica. A abertura de indústrias numa determinada região, por exemplo, gera a necessidade de que se tenham cursos para capacitar os jovens locais. E, exatamente, por isso, a presença ou ausência de cursos profissionalizantes flutua. Voltando aos gráficos, vale confrontar a distribuição dos alunos, expurgando-se, no quadro à direita, também estabelecimentos voltados exclusivamente à oferta de cursos profissionalizantes (públicos ou privados).


À esquerda: sem os estabelecimentos (púbicos ou privados) que atendem apenas como Creches, mas mantendo-se aqueles exclusivamente dedicados ao Ensino Profissionalizante junto aos que oferecem o ensino regular.

À direita: retirando-se escolas (públicas ou privadas) exclusivamente voltadas ao Profissionalizante e seus respectivos alunos: a rede pública aumenta sua redução, passando a registrar 1.244.167 estudantes a menos, em 2022, do que tinha em 2018. E a rede privada, nesse contexto, registra também uma redução maior: 204.567 alunos a menos no país como um todo.


Ou seja, é bastante ilusória a sensação de que o mercado está favorável às escolas privadas que oferecem o ensino regular. Na prática, a população de estudantes sofreu tanto em termos absolutos quanto em termos relativos. São quase 1,5 milhão de matrículas a menos na educação básica regular. E, de fato, essa perda foi um pouquinho mais sentida pela rede pública (antes ela representava 82,6% das matrículas e, em 2022, 82,5% delas). Mas muito, muito, muito menor do que poderia parecer à primeira vista.


Sobre este tema, nosso diálogo apenas começou. No próximo post, vamos falar sobre real - ou lendário - aumento da concorrência no mercado das escolas privadas de educação básica.


Espero, do fundo do coração, contribuir para jogar um belo feixe de luz no presente e no que se promete para o futuro. Não jogo futebol, mas do pouquíssimo que sei, penso que seria muito mais difícil a um time movimentar-se estrategicamente e ganhar um jogo se os jogadores estiverem com os olhos vendados e nunca terem tido a menor noção do tamanho do campo.












 
 
 

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