O início, o fim e o meio
- Rose Bernardi
- 12 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
Algumas vezes já me perguntaram o que eu não deixaria de incluir numa escola ideal. Também já fiz algumas vezes essa mesma pergunta a educadores entrevistados para cargo de liderança pedagógica.
Não consigo pensar em nada na minha vida sem obedecer fielmente à conhecida lógica do Cheshire Cat, de Lewis Carroll: "se você não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve". E escola, para mim, é, sempre foi, e sempre será caminho. Ao longo dele, ganha-se experiência, instrumentalização, repertório, conhecimento, desenvolvimento e mais um monte de tudo aquilo que já sabemos, mas é caminho, é meio e não fim. Então, obedientíssima que sou, não consigo partir sem saber aonde quero chegar.
Antes de sair da cama, na clássica zapeada no celular, enquanto os neurônios se acendem, abri este link, que me havia sido enviado durante a madrugada.
Era a perfeita aula inaugural da minha escola ideal! Cada ponto abordado pode ser o fundamento de quase todas (ou todas?) as disciplinas do currículo dos sonhos. Um núcleo de onde tudo parte, pois, no final da jornada, é ali a que se precisa chegar. Exatamente aí! Minha escola ideal é o caminho, o meio capaz de preparar pessoas que contribuam para a evolução civilizatória, para um amanhã sempre melhor do que o ontem, com as ferramentas necessárias para isso, de acordo com o momento em que vivem.
O Oxford Dictionary elege, anualmente (óbvio), "a palavra do ano". Escolhe-se a palavra que melhor traduz o ethos, o humor, as preocupações daquele ano em particular e que tenha potencial duradouro para ser uma palavra de significado cultural. Em 2016, a "palavra do ano" foi post-truth, a pós verdade. Um substantivo ou adjetivo usado para identificar as situações em que apelos à emoção ou crenças pessoais são muito mais efetivos na formação da opinião pública do que os fatos, os dados, as evidências. Em suma, na era da pós verdade, as pessoas acreditam naquilo que valida suas crenças e emoções pessoais, a despeito dos fatos, dados e evidências em contrário.
Pulei da cama muito mais rápido e muito mais motivada a retomar meu trabalho em educação. Mais do que nunca senti a necessidade e a urgência de deixar as férias de lado, arregaçar as mangas e contribuir para a escola ideal, para a educação ideal, para o cidadão ideal.
Enquanto tomava banho, ainda encantada pela impecável e didática fala de Alex Edmans, pensei: todo pai, toda mãe, também precisa ensinar isso para seu filho. Imediatamente, no entanto, me adveio a necessidade de fazer o alerta: a educação que se constrói em família não se sustenta pelo discurso. Aliás, nada funciona pior do que discurso de pai e mãe. Educação em família só se sustenta pelo exemplo e pela consistência com que ele se evidencia. Naturalmente, sem papo cabeça, nem pregação.
Como profissional, me senti tão desafiada quanto entusiasmada. Como pessoa, preciso confessar que saí do chuveiro mais contente ainda.
Quem me enviou esse vídeo na madrugada foi exatamente meu filho. Está enraizado nele, porque sempre esteve presente em nossa casa, em todo santo dia, o direito a não ser manipulado, rotulado, reduzido por qualquer pós verdade que o impeça de contribuir para um mundo melhor, mais sábio e mais justo para todos. Sou extremamente grata por ter o privilégio de identificar esse tipo de consciência no nosso microcosmo e por ter abraçado uma profissão que me possibilita espalhar essas sementes por aí.
Que tenhamos, todos, um excelente ano pela frente!



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