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Me chamaram para ser coordenador. E agora?

Atualizado: 6 de ago. de 2022

Você é professor e foi convidado para assumir uma coordenação em sua escola? Mesmo que ainda não tenha sido, assumir uma função de liderança na educação parece-lhe tentador? Pode ser um projeto futuro?


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Nesta última semana, coincidentemente, ou não, três leituras acabaram me levando a este diálogo imaginário com você. Um artigo de 2019, da Harvard Business Review, e dois outros publicados recentemente, agora em julho: um pela Education Week e outro pela EdSurge.


Cada um deles trouxe abordagens a partir de diferentes pontos de observação, mas todos os três acabaram se juntando, como subtexto, a algumas perguntas que eu gostaria de dividir com você. Ao respondê-las, espero que você tenha

muito mais elementos para avaliar esse convite e seu impacto em sua vida.


Chegou o seu momento?

Dar aulas cansa, sim. Muito. Corrigir atividades, avaliações, mais ainda. Refazer a cada ano um caminho já percorrido várias vezes também drena o entusiasmo de qualquer um.

Mas, se o convite que recebeu não lhe permitir manter suas atividades como professor, você está pronto para abrir mão de todo o resto que vem junto com esse pacote? Mais precisamente, está pronto para abrir mão do convívio diário com os alunos?

Em sala de aula, o feedback é instantâneo. Vem do brilho nos olhos, vem do engajamento, vem da sua sensação ao término de cada aula. Querendo ou não, está numa sala cheia de espelhos e ela lhe devolve imagens de si o tempo todo. E provavelmente você gosta muito do que vê.

Atrás da mesa na qual você vier a se sentar, espelhos não são frequentes. E, muitas vezes, o que se colhe deles são imagens bem deformadas. Está disposto a isso?


Professores são líderes. Coordenadores também. Mas são do mesmo tipo?

Coordenar envolve fazer gestão de processos e de pessoas. As pessoas em questão serão aquelas que você, hoje, entende como pares. Sente-se legitimado por elas? Caso não sinta, considera que dispõe das ferramentas para passar a ser?

Conhecimento técnico, disciplina e organização certamente não lhe faltam e são mais que suficientes para sua autogestão. Mas a coordenação implica levar o grupo junto com você. Implica usar um repertório bem mais abrangente para envolver pessoas que não agem exatamente como você, no mesmo timing que você, com a mesma profundidade que você. E levá-las a um aprimoramento constante. Como avalia seu repertório para fazer tanto a gestão dos processos quanto das pessoas que lhe serão confiados?


Você é bom naquilo que já fez ou naquilo que pode fazer?

Sua trajetória como profissional, por mais perfeita que seja, não lhe dá garantias de sucesso no desafio que irá assumir: suas entregas precisarão ser de outra natureza no novo posto.

Para tornar o desafio ainda maior do que já seria, prepare-se: você será um coordenador em época de mudanças. Isso é inegável: o mundo muda numa velocidade indiscutível e nosso setor está atrasadíssimo na cena.

Ser um lifelong learner é obrigação de todo profissional e maior ainda será a sua nesse sentido. Você precisa estar muito aberto e disponível a aprender continuamente, não somente para acelerar sua curva de aprendizagem no fazer da nova função, mas também para liderar e inspirar seu grupo nesses mares maravilhosamente turbulentos.

Como você se sente em relação a isso?


E se a falta de rotina virar sua nova rotina?

Quem supõe que a vida docente é repleta de eventos inesperados não tem a menor ideia de como é o dia a dia de um coordenador. Por isso, o desafio da gestão do tempo é tão recorrentemente citado como um dos grandes - talvez o maior dos - desconfortos da função.

O inesperado de todos os coordenados convergem e se tornam, somados, o inesperado de cada coordenador. Há de se ter um set de habilidades variadas (emocionais e técnicas) bastante robusto para lidar com as intercorrências do dia a dia e muita clareza de que essa condição é tão implacável quanto inerente à natureza do posto.

Se não estiver muito bem aparelhado, o risco pessoal de um jovem coordenador cair nas armadilhas de quadros envolvendo stress, ansiedade, burnout ou mesmo depressão é, infelizmente, muito grande. Falo por experiência própria.

Como você se avalia nesse aspecto?


Grandes professores impactam muitas vidas. Grandes coordenadores também. São fazeres distintos, olhares distintos, contribuições incomparáveis. Professores maravilhosos, com os quais tive o privilégio de trabalhar, nunca deixaram a sala de aula, por convicção, recusando propostas que entenderam equivocadas. Coordenadores maravilhosos, com os quais tive o privilégio de trabalhar, nasceram justamente da sala de aula. E, por isso mesmo, tornaram-se líderes com conhecimento da realidade dos coordenados e, por isso mesmo, com muita empatia. Tornaram-se coordenadores brilhantes.


Vale a pena deixar a sala de aula e assumir uma função de liderança? Não existe resposta correta. Existem apenas as perguntas necessárias, que não podem deixar de ser feitas, quando surgir essa possibilidade.


 
 
 

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