"Isso a gente já faz..."
- Rose Bernardi
- 20 de jul. de 2022
- 2 min de leitura
Uma das frases mais repetidas nas escolas quase sempre é uma inverdade. O "isso a gente já faz", variante do "isso a gente já tentou" e do "isso a gente fazia", costuma ocultar o verdadeiro sentido do "isso". Um "isso" usado para invocar algo que parece, mas não é. Um "isso" que é objeto de um "já faz" aerado, fortuito e aleatório.
Já vi muita gente achando que, pela simples encomenda de uma atividade a um grupo de alunos, se estão desenvolvendo os team players de amanhã.
Lembro-me de Dona Glorinha... Espero que ela me perdoe, mas, sinceramente, os "trabalhos em grupo", no meu tempo de aluna, foram verdadeiras inutilidades. O "grupo" era um amontoado e o "trabalho" era algo bem discutível. E não formaram team player algum.
Primeiro, porque eram episódios marginais. Na escola, majoritariamente, éramos aprendentes solitários, em nossas carreiras solo. Talentávamos ou fracassávamos sozinhos. Essencialmente, éramos avaliados pelo que produzíamos individualmente. O trabalho em grupo era um adereço avulso, um penduricalho estranho. Não tinha recorrência, tampouco consistência.
Segundo, porque, ainda que fossem menos episódicos, os tais trabalhos em grupo não seguiam um design criado com a intencionalidade de desenvolver as habilidades para a aprendizagem e construção colaborativas. Não havia intervenções para que isso ocorresse, nem avaliação do processo.
Escolas são espaços excelentes para a construção colaborativa, para a exploração da aprendizagem por pares, para que se ensine e se aprenda - de verdade - a produzir cooperativamente, como é necessário na vida real.
Hoje, quando visito uma escola, pergunto sobre como se dá a aprendizagem colaborativa. Respostas, por vezes entusiasmadas e com visões estruturadas, muitas vezes se contradizem durante o passeio pelos corredores em que se veem salas e salas, com suas carteiras rigorosamente enfileiradas, que me fazem, mais uma vez, lembrar da eterna Dona Glorinha.
Enquanto não houver consistência e intencionalidade, nenhum "já faz", "fazia" ou "já tentou" sustentam o "isso" de que precisamos para gerar impacto e promover mudanças na educação.













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