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Dislexia: parece que o jogo virou.

Um artigo publicado pelo Fórum Econômico Mundial (julho/2022) pode ter passado despercebido por aqui. Era julho, escolas em férias ou iniciando o segundo semestre... Mas trazia para a educação um sinalzão de alerta gigante, importante demais para se perder no esquecimento.

Nesse artigo, a autora se fundamenta em recentes estudos acadêmicos com conclusões bastante surpreendentes e que contradizem o que se pensa a respeito e o que se atribui à dislexia, tipicamente descrita como um distúrbio cerebral ou dificuldade de aprendizagem.


Segundo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge e publicado no Frontiers in Psychology, a dislexia é, de fato, uma ferramenta vital que ajudou a humanidade a se adaptar. Sempre vista como fraqueza, é, na verdade, uma força. Mais que isso: grande vantagem no histórico da humanidade e que se torna maior ainda nos dias de hoje.


“Precisamos urgentemente começar a fortalecer esse modo de pensar para permitir que a humanidade continue a se adaptar e resolver desafios essenciais.

- Dra. Helen Taylor, responsável pelo estudo da Universidade de Cambridge.


Resumidamente, a pesquisa conclui que as pessoas com dislexia são especialistas em exploração e curiosidade. Esse “viés exploratório”, como é chamado, desempenha um “papel crucial” na sobrevivência humana, ajudando-nos a nos adaptar a ambientes em mudança. Dele fazem parte habilidades e pontos fortes como a inventividade e o pensamento geral e de longo prazo.


Os pesquisadores ligam a dislexia à evolução humana ao longo de centenas de milhares de anos: o cérebro humano, afinal, teve de se adaptar a mudanças constantes, em vez de sobreviver tranquilamente num ambiente fixo e previsível.


Em The Value of Dyslexia, um relatório feito em 2019, numa coautoria entre a EY e a Made by Dyslexia (instituição que está redefinindo a dislexia), defende que os pontos fortes dos disléxicos podem ajudar os empregadores a navegar no mundo do trabalho em mudança. Segundo os autores desse relatório, disléxicos podem mostrar desempenho “forte”, “muito forte” e “excepcional” em uma série de “habilidades cognitivas, habilidades de sistema, habilidades de resolução de problemas complexos, habilidades de conteúdo, habilidades de processo e habilidades técnicas”. Ou seja, algumas das habilidades essenciais que atendem a uma demanda crescente segundo o Future of Jobs Report 2020, o relevante relatório do Fórum Econômico Mundial.


A leitura desse artigo, como um todo, provoca um daqueles emaranhados de sentimentos antagônicos. De um lado, essa leitura nos enche de alegria: desperta em nós o ânimo pela ciência e, principalmente, pelo banho de luz que ela joga sobre cerca de 20% da população, virando pelo avesso o estigma que envolve essa enorme parcela. Ao mesmo tempo, é impossível a gente não se incomodar pelo amargo das sombras que a educação tem jogado exatamente sobre essas mesmas pessoas.


A forma com que lidamos com a dislexia em nossas escolas revela, afinal, sim, um distúrbio, uma dificuldade de se lidar com a aprendizagem, uma enorme deficiência... Nada disso é do estudante. O problema, comprovada e lamentavelmente, é todinho nosso.

 
 
 

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