Calvin, Gregório e a Turma do Balão Mágico.
- Rose Bernardi
- 17 de ago. de 2022
- 2 min de leitura
Ou: apesar de você, amanhã há de ser outro dia.

Trechos da entrevista de Gregório Duvivier.
Conversa Solta com Maria Rita Kehl
Rádio Madalena
No meu Ensino Médio, eu era da turma do fundão que se sentava na frente. Conhecida como Turma do Balão Mágico - referência a um hit dos anos 80, que começava com "eu vivo sempre no mundo da lua" - deixávamos nossos corpos sentados nas primeiras fileiras enquanto nossos espíritos, de fundão, vagavam por onde encontrassem caminho.
Eu lia. Havia quem desenhasse, quem compusesse, quem sonhasse, até quem copiasse a lousa, apenas por não ter nada melhor para fazer o tempo passar. Alunos de classe média, média alta, de escola privada, com foco em aprovação no vestibular, seguimos o que se esperava de nós, em termos de escolaridade, e sobrevivemos da melhor maneira possível. Alguns de nós, até com boas notas. Outros nem tanto, o que não fez a menor diferença.
Éramos Calvins e Gregórios.
Há cerca de uns três anos, numa formação, Mark Church(1) provocou: "reveja a si mesmo quando deixou a Educação Básica. O que sua escola de até então lhe deixou como contribuição para seus dias de hoje?" No meu caso, uma vaga numa Universidade Pública e o direito de sair, para sempre, da cidade em que nasci. Não é pouco, mas é apenas e tão somente isto: passei num concurso. Para os outros integrantes da Turma do Balão Mágico, mais ou menos a mesma coisa.
Viramos profissionais bem sucedidos. Mobilizamos, para isso, habilidades e conhecimento, originários muito mais do lugar que nossos espíritos encontravam em seu vagar errático do que do lugar em que nossos corpos estiveram por mais de uma dúzia de anos.
Em retrospecto, considero que aquele período não nos ajudou. Cinicamente, acrescentaria: pelo menos não nos atrapalhou. Olhando para a frente, sigo a jornada desejando uma educação em que talentos não se revelem apesar dela, mas através dela. E agradeço por ter escolhido - por pura obra do acaso - abraçar profissionalmente um caminho que me permite contribuir para isso.
(1) Mark Church: consultor das iniciativas Making Thinking Visible e Cultures of Thinking do Harvard Project Zero. É coautor, com Ron Ritchhart do livro Making Thinking Visible: How to Promote Engagement, Understanding, and Independence for All Learners (Jossey-Bass, 2011) e The Power of Making Thinking Visible: Practices to Engage and Empower All Learners (Jossey-Bass, 2020).















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